-
Arquitetos: RDR architectes
- Ano: 2019
-
Fotografias:Javier Agustin Rojas
-
Fabricantes: Etneco, Technal
Descrição enviada pela equipe de projeto. O Rancho Morro Chico está localizado na Patagônia Argentina, na fronteira mais austral com o Chile. A história deste lugar se confunde com a saga dos primeiros colonos da região. A chácara foi fundada por um imigrante escocês que chegou à Argentina vindo das Ilhas Malvinas no final do século XIX - como tantos outros imigrantes fizeram naquela época - atravessando a fronteira através da cidade chilena de Punta Arenas. No início do século XX, a região foi palco de um importante capítulo na história do país. Procurando colonizar as terras Argentinas no extremo sul do país, os colonos atravessaram mais de 2.000 quilômetros de área pantanosas acompanhados de um rebanho de mais de 5.000 ovelhas para poderem se estabelecer nas propriedades que lhes haviam sido prometidas pelo governo argentino.
Quase um século depois, os descendentes desta mesma família de pioneiros escoceses decidiram levar a cabo um ambicioso projeto, o qual visa resgatar e ampliar as instalações do Rancho Morro Chico. Entre as principais premissas de projeto levantadas por nossos clientes estavam: a preservação do patrimônio natural, a utilização de sistemas construtivos sustentáveis, a construção de novas instalações para a ampliação da produção de carne e lã além de promover uma melhor qualidade de vida para a comunidade local. Tendo isso em vista, desenvolvemos primeiramente um plano diretor para área e um cronograma de implantação do projeto que seria iniciado em 2015 e finalizado em 2019. Entre as novas estruturas projetadas para o Rancho estavam, um galpão para a tosquia das ovelhas (localizado a poucos quilômetros da sede da fazenda), um depósito para armazenamento do maquinário e outros itens, um alojamento para os funcionários e a residência da família. A maioria das estruturas existentes (com exceção daquelas que encontravam-se em estado de ruína) foram reutilizadas e adaptadas para atender às novas necessidades dos trabalhadores e visitantes.
O antigo galpão para a tosquia das ovelhas e outras estruturas complementares, foram restauradas respeitando as suas características originais. Estes edifícios centenários, adaptados e modernizados para permanecerem úteis no presente, representam importantes elementos na narrativa histórica deste lugar.
Uma das mais importantes melhorias foi a introdução de sistemas alternativos para a produção de energia renovável. Painéis fotovoltaicos e turbinas eólicas foram incorporadas à nova estrutura da fazenda, assim como a criação de um sistema de aquecimento de água por caldeiras, as quais são parcialmente alimentadas por gás natural, substituindo o antigo sistema à carvão.
O layout do complexo foi inspirado na organização das antigas vilas da região, onde os edifícios são agrupados para proporcionar uma melhor proteção contra o rigoroso clima austral argentino, criando pequenos espaços abertos de convívio em pleno deserto da Patagônia.
O sistema construtivo escolhido é composto por elementos pré-fabricados de madeira e metal e revestimentos de ferro corrugado, não muito diferente das técnicas construtivas utilizadas pelos primeiros colonos que chegaram aqui, uma tentativa de lidar com os problemas logísticos e a escassez de recursos.
Os edifícios reaproveitados tiveram que ser inteiramente adaptados para contemplar um melhor desempenho energético. Por esse motivo, todas as estruturas, tanto as existentes quanto as novas, foram equipadas com um robusto sistema de isolamento instalado por debaixo do revestimento das fachadas. De qualquer forma, esta nova camada de isolamento encontra-se oculta por baixo dos painéis corrugados, responsáveis por criar uma sensação de unidade através do conjunto de edifícios.
Para o desenvolvimento deste projeto buscamos inspiração na arquitetura vernacular da região, apropriando-se da austeridade e da simplicidade quase primitiva das antigas estruturas da fazenda. A partir deste elemento comum, introduzimos pequenas variações na linguagem arquitetônica de cada edifício de acordo com o seu programa e função. Algumas formas são bastante simples, como a do galpão de tosquia, outras são mais complexas, como a residência da família.
Paralelamente a essas variações formais, diferentes materiais foram utilizados para criar um maior contraste entre as estruturas novas e existentes, sempre respeitando os elementos fundamentais de sua arquitetura, que basicamente é definida pela madeira - predominante no interior - e o ferro corrugado - que dá forma a linguagem exterior dos edifícios.
A residência da família, como a mais nobre estrutura do conjunto, é aquela que mais utiliza madeira. Progressivamente a quantidade de madeira utilizada vai sendo reduzida à medida que os edifícios se tornam mais utilitários, até que desaparece por completo no galpão das ovelhas, a mais profana das estruturas.